Saturday, July 31, 2010

Os ogros da minha vida

Não. Não são os amores da minha vida. São os ogros da minha vida. Eu sei, eu sei que tenho muuito pela frente, que sou jovem e blá, blá, blá. Todo mundo diz isso. Mas eu sou eu, não vivi aquilo que os outros viveram, assim como eles não viveram o que eu vivi. Ponto final. Justificativa dada. (justificativas...tema para outro texto). Do que estou falando exatamente? Ah, pois é..daquelas pessoas que cruzam o nosso caminho e que bem ou mal deixam marcas, histórias e levam marcas e histórias.



Cada fase da nossa vida tem um ogro específico. Na adolescência, os ogros são seres inatingíveis. No meu tempo eles moravam no planeta televisão e, às vezes, visitavam o planeta rádio. Hoje em dia, parece-me que eles circulam pelo planeta internet. Você nunca fica sabendo se aquele charme todo é verdadeiro, ou propaganda para vender camiseta, mas você gosta igual, acha tudo lindo do mesmo jeito. Até porque, todo mundo gosta.


Aí, o tempo vai passando e o encanto perde força e você precisa de um ogro de carne e osso “atingível”. Nessa fase, a o cérebro parece um órgão dispensável, o que importa é o estereótipo. Alto ou baixo, gordo ou magro, loiro ou moreno, com ou sem etiqueta, com ou sem referências. Sempre tem um ogro assim rondando o seu campinho. E plóft!! Aí vem a marca e na memória fica a história daquela criatura que depois você fica se perguntando como é que você deixou entrar no seu campinho. Fazer o quê? Vai que alguém pensou o mesmo de ti, ãh? Cada fase da sua vida tem um ogro, não é essa a ideia?


Também tem aqueles ogros que juram que você é a única ogra da vida deles. Eles só se esquecem de avisar qual é o conceito atribuído à palavra vida: os quinze minutos que estão conversando contigo. E com cada uma que conversam, uma vida acontece. O mais interessante é que você tem a tendência a sempre acreditar nas pessoas. Tolice. Não acredite nem em si mesma. Pergunte-se duas vezes. Desconfie. Mas sem paranóia, por favor.


Depois do ogro gato, que vive várias vidas, só que ao mesmo tempo, você pensa “Agora preciso me centrar. De que adianta a carcaça inteirinha se o conteúdo nem existe propriamente? E quando a carcaça tem um enchimentozinho, é muita vida para você aguentar”. Lá vem o ogro das frases inteligentes, dos conteúdos atuais, das conversas cultas. É esse! É esse! Só pode! É nada...você convive um pouco e percebe que a inteligência é seletiva: só funciona quando quer. Quando não quer, atropela e invade aquele espacinho minúsculo que você ocupa no canto da sala, entre a folhagem e a caixinha de areia do gato. Epa, epa, epa. Stop! É preciso dizer que a invasão ocorre porque há um espaço mal preenchido por você. E sabe como é, né: saiu do ar perdeu o lugar.


Mas então, mais uma volta se dá, você percebe que o cantinho entre a samambaia e o gato é pequeno, que o ar falta, que a visão é horrível. E lá está você, novamente, sem um ogro. Que paradoxo. E eles são indispensáveis? Não. Eu não sou hipócrita, claro que não. Também quero compartilhar minha vida com um ogro. Óooh, que lindo! Não poderia ser mais água com açúcar.


Ah, tem os mortos-vivos também que somem da sua vida, como purpurina. De repente, reaparecem. Do nada. Das cinzas. Do MSN. Sei lá. Com o papo nostálgico dos “velhos tempos”. “Que interessante!”, você pensa. Quem sabe agora, mais madura e mais maduro, pode-se viver bons momentos. Dãaa!! Acorda! Ele não mudou e, seja franca, você também não. Esquece, vira a página. Mentira. Você até tenta, ilude-se um pouquinho, pensando que pode ser diferente. Isso só funciona em letra de música.


Dá quase para desistir. Você até tenta, mas alguma coisa lá no fundinho não deixa. Você quer estar com um ogro. Alguns ogros aparecem. Mas não dá. Ainda não apareceu um ogro que seja Shrek e, de repente, você percebe que também não é a Fiona da vida do Shrek. É carne e osso mesmo e a pele não é verde.


A vida parece ser assim: encontros e desencontros que acontecem conforme a nossa predisposição a vivê-los. Hummm, ou será que o amor é que é assim?

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